sexta-feira, 10 de maio de 2013
À minha Pediatra
Veio-me à memória a minha Pediatra. De como me sabiam bem aqueles dias. E um bem, que aquece o coração só de lembrar.
Ser chamada para entrar no consultório, o cheiro do plástico que revestia o colchãozinho onde nos sentavam para tirar a roupa, o ritual de ficar só com a camisolinha interior, entrar no consultório e ver aquele sorriso enternecedor, aquela sala cheia de significado, cheia de memórias e histórias para contar. Hum os cheiros, as imagens, as memórias, parece que tudo ficou gravado no mais profundo dos discos internos. O consultório simples, mas cheio de alma. Todas aquelas fotografias de crianças que terão por ali passado, todas aquelas ampulhetas cheias de areia ou líquidos coloridos. No fundo como que uma alegoria do que toda aquela experiência representava para mim. O tempo, a espera, o respeito que, não sendo forçado, vinha à tona com a maior naturalidade, nem tão pouco era questionado. Não me lembro de haver grandes perguntas, da minha parte; não me lembro também de existirem grandes explicações. Mas eu sabia o meu papel. E senti-me sempre tão bem ali. Aquela pessoa apaziguava-me. Ter a minha Mãe ali era também tranquilizador. Era como se ambas me dissessem, sem dizerem, que tudo estava bem, que tudo estaria sempre bem. Não havia necessidade de aprovação constante, não havia um procurar dum sorriso ou duma palavra positiva. Havia o silêncio. Mas um silêncio que tranquilizava e respondia, sem ser necessário recorrer a palavras. Não havia gestos bruscos ali, não havia qualquer tipo de agressividade ou acção que me assustasse. Nada, rigorosamente nada. Tudo era positivo, estável, tranquilo e apaziguador. A camisolinha interior, branca ou cor-de-rosa, assim me lembro dela. O corpinho macio. E o respirar calmo e terno da Dra. Catela. O estetoscópio tocava no meu corpo miúdo. O choque térmico que durava por pouco tempo. Pequenos segundos e mudava de sítio. Tuc. Tuc. Tuc. Tuc. A calmia, a paz, a tranquilidade do momento. Aquele olhar atento, terno, generoso, tão tranquilo. Agora tocava o peito. Depois tocava as costas. O pequeno choque térmico novamente, procurava-se o olhar tranquilizador da Mãe e logo vinha o sorriso atento e cúmplice da Dra. Catarina Catela. Não havia respostas a serem verbalizadas, nem questões a serem colocadas. Tudo estava como devia estar e não havia medos ali. Que doçura de pessoa. Que paz de espírito transparecia. Os sentimentos negativos não entravam ali. Tudo era luz, ternura e tranquilidade.
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